sábado, 26 de novembro de 2011

TEMPO, TEMPO, TEMPO

Entre mil coisas, uma me chamou especialmente a atenção em minha temporada no Japão. O ritmo, a batida leve do tempo das coisas e das pessoas. Um mundo moderno, onde a tecnologia e seus benefícios, curiosamente, não são o centro das atenções. Elas simplesmente permeiam os hábitos. Estão ali para facilitar e nada mais. Você mal percebe que a privada dá a descarga sozinha, que quase tudo “fala” com você, ou que o pedágio é automático (o carro também fala com você nessa hora, avisando o valor que foi descontado de seu cartão pré-pago). Ao contrário de todos os estereótipos que se tem sobre o lugar, o que se destaca é a gentileza do atendente, a sutileza dos sorrisos simpáticos, a naturalidade da preocupação com o meio ambiente, entre muitos e muitos outros detalhes. Mesmo que todos estejam com pressa e que todos os horários sejam rigorosamente cumpridos, o que se vê é um povo sereno e extremamente cordial. Curiosamente, ao voltar das férias engrenei a leitura do livro “Perca Tempo – É no lento que a vida acontece”, de Ciro Marcondes Filho (Paulus, 2005, 111 páginas). Primeiro da fila das leituras atrasadas, feliz coincidência com este momento de percepção de algo que só aqui, nas lembranças e saudades, pude perceber. Como a tranqüilidade desse tempo oriental me fez tão bem. Tenho tentado, nas bandas de cá, manter o ritmo mais lento, questionando a pressa, o desejo de fazer mil coisas ao mesmo tempo. E na contramão de tudo, outro aprendizado. Estou quase conseguindo cumprir horários, o que atribuo à percepção de que meu descontrole com horários nada mais era do que um protesto silencioso e inconsciente a esse mundo moderno. A gente aprende tanto, e quase não se dá conta. Deve ser por isso que dizem por aí, viajar é cultura.

Segundo Ciro Marcondes Filho, “ao optar pelo perca tempo, parece que se consegue entrar numa outra faixa de sintonia, num outro ritmo, numa esfera acima dos conflitos cotidianos. Ao optar pela redução da velocidade, o corpo também reage e se torna mais leve, seus movimentos mais harmônicos e compassados. Entra-se no mundo dos sentidos tanto tempo atrofiado. Tem-se uma expansão da sensibilidade sem precisar fazer uso das drogas... Não se trata de apatia. Ao contrário, é um procedimento em que a pessoa tende a se tornar mais atenta, mais cuidadosa, mais compenetrada e ligada no que acontece. Só que em outra velocidade. E, nesse novo comportamento, desenterra-se a sensibilidade esclerosada, endurecida, esquecida."

E ele também cita o filósofo romano Marco Aurélio, com essa indagação: “Quando você gozará do prazer de ser simples, do prazer de conhecer cada coisa particularmente em sua essência, o lugar que ela tem no mundo, a duração que a natureza lhe reserva, os elementos de que ela se compõe, os seres a que ela pertence, e o que ela pode nos dar e nos fascinar?”