domingo, 22 de março de 2015

Câncer – e agora?

Como lutar contra a doença sem deixar a vida de lado



Encontrei esse livro por acaso, numa das minhas rápidas escapadas pós-quimioterapia. Cada pessoa tem um modo de lidar com a vida e seus problemas. O meu, na maior parte das vezes, é mergulhando de cabeça em todo tipo de informação ou referência sobre a coisa em questão. E sim, não fiquei (mais) melodramática por causa da doença, nem mesmo me tornei uma pessoa melhor ou mais religiosa. Mas quer saber? Muda tudo, sim, de verdade. Algo que penso acontecer sempre que nos sentimos confrontados. Não acho que seja preciso ter câncer para aprender essa lição. Entretanto, às vezes, os momentos trágicos nos obrigam a pensar nas prioridades imediatas e ficar alerta. E aí está o grande barato.

Li muita coisa sobre o assunto, mas poucos textos me causaram tanta identificação como esse livro “Câncer - e agora?” (Editora Globo, 2007, 202 páginas) da fotógrafa e atriz americana Kris Carr. De cara ela me diz “o saldo que fica é o seguinte: mesmo que o câncer desapareça, a lembrança de que ele existiu permanece, a lembrança de que ele existiu permanece – e o medo de que ele retorne também”. Perfeito para quem acabava de voltar a trabalhar, procurou a vida de antes e não achou! O medo faz parte da vida, e convive diariamente com minha fé. Que alívio me reconhecer nessa frase. E em tantas outras. Ninguém controla a própria vida, mesmo que pense o contrário.

São memórias que quero guardar para sempre. Olho para as ‘tatuagens deixadas pelo câncer e me recordo de que essa história me transformou e me obrigou a ampliar meus horizontes. Sou grata por isso.” Kris, que tem um câncer de fígado incurável, é ácida, bem-humorada, realista e divertida. Tudo junto e sem aquele blá-blá-blá do politicamente correto que costuma acompanhar os textos sobre o assunto. E se você conseguir exorcizar o demônio da desgraça vai se divertir e identificar com a grande maioria dos seus relatos

Esse foi o primeiro livro que li quando consegui voltar a respirar. Fiz algumas tentativas durante a fase negra, mas era muito, muito difícil conseguir me concentrar na leitura. Ainda estou aprendendo a lidar com a minha dificuldade de compreensão e concentração, sequelas da quimioterapia que pode, em alguns casos, comprometer as funções cognitivas. Por isso essa foi também a primeira vez que levei semanas para terminar de ler um livro. Vida nova, sim senhor. 

Blog da Kris: www.crazysexycancer.com