Esse foi, sem dúvida, o
melhor aniversário da minha vida. Temos todos nossos infernos particulares, e
estar sobrevivendo ao meu, estar viva para comemorar mais um ano, é incrível.
Razão para festejar. Mas esse é também, sem dúvida, um dos mais tristes. Acabei
de saber que uma amiga querida se foi. Alguém que fazia parte da minha família
do coração, do tipo que não é de sangue, mas de amizade e respeito pela vida um
do outro. Ela fez parte de minha infância, adolescência, o tipo de amizade que
você sabe, a distância física não faz diferença. Em janeiro do ano passado,
ainda em fase de diagnóstico do meu câncer, escrevi aqui no blog sobre a
coragem, logo depois de ganhar um livro de outra amiga querida, com esse
título. A Eliana, é esse o nome da amiga que partiu, deixou um comentário
carinhoso e encorajador na postagem. Falávamos sobre a magia de colocar para
fora as emoções através da palavra. Ela também jornalista, aliás, acho que a
primeira jornalista que conheci, entendeu perfeitamente a minha necessidade de ‘falar’,
algo que para alguns era muita ‘exposição’. Acontece que logo depois, acho que
na minha segunda cirurgia, ela também foi diagnosticada com câncer. Trocamos
figurinhas, nos apoiamos mutuamente. E o carinho dela por mim foi tão grande,
que quando as coisas começaram a não dar muito certo com o seu tratamento, chegou
a dizer que não queria “me contaminar”, imaginando que seus resultados podiam me
assustar. Em um de seus últimos emails ela me disse: queria de alguma forma te
confortar, porque sei o que está passando. E era isso, conversar com ela me acalmava,
porque sabia que talvez fosse a única a me entender de verdade! Hoje me
despeço, com uma frase de adeus que é sua, Eliana. Mas que agora também é minha:
Queria poder te ver, te dar um abraço...Fica bem, minha querida!
Querida Maria...
Como você, eu também gosto
das palavras. E me maravilho diariamente com o imenso poder que elas têm: o
poder de curar, o poder de ferir, o poder de acalentar e de seduzir. Impossível
contar as inúmeras vezes vezes em que eu fui salva pelas palavras: de um
parente distante, de um amigo querido, de uma música marcante, de um autor
preferido... E também as vezes em que elas me cortaram feito faca afiada, feito
caco de vidro. Como você, também já fiquei sem palavras. Algumas vezes por
susto, outras por medo, e muitas vezes por elas terem se emaranhando na hora de
expressar o tumulto, a revolução que se passava dentro de mim. Mas mais do que
tudo, as palavras sempre foram o meu porto seguro, o meu refúgio, a minha canoa
em meio ao mar revolto.
Espero muito que as palavras
que vão chegar até você, vindas de todo mundo que te ama, te ajudem a navegar
esse seu mar revolto, e te conduzam à terra firme. Que a palavra coragem te
reforce, que a palavra paciência te acalme, que a palavra carinho de aconchegue.
E que nessa fase de dúvidas e medos e incertezas, você se cerque somente das
palavras bonitas - sorriso, brisa, flor, ternura, esperança, amor.
Beijo,
Eli Fajardo