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Não acredito que um novo amor
seja a fórmula para eliminar velhos sentimentos. Mas bem que a teoria serviu
para tirar o foco de minha tristeza. Há muito guardando o documentário GARAPA (Brasil,
110 minutos, 2009), de José Padilha, para assistir no momento certo, eis que
ele aconteceu. A dor não passou, mas a percepção de que o mundo é feito de
muitas dores pode ser reconfortante. A sensação de fome, mesmo assistindo ao filme
após um farto almoço, foi quase sintomática. Mousse, sorvete, pipoca e outras
guloseimas não conseguiram aplacar o medo dessa frase: situação de
insuficiência alimentar grave.
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Em preto e branco, o filme registra o cotidiano de três famílias do Ceará, que aplacam a fome de seus filhos com a garapa do título, composto de água e açúcar servido às crianças para substituir o leite praticamente inexistente. Sem trilha sonora, com câmera na mão e lentes fixas, "Garapa" quer que o espectador olhe de perto as estatísticas já conhecidas, durante longos e angustiantes 110 minutos. Um desfile de criaturas sem autoestima nem sonhos, resignados com suas condições frente à vida. O filme acaba e eles continuam esperando pela “vontade de Deus”.