segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Eu tenho medo sim, e daí?



David Bowie no Brasil, início da década de 90


Quando seus ídolos começam a morrer, cai a ficha da finitude. Quando seus ídolos começam a morrer de câncer, tenho que confessar, cai a máscara da coragem. Ainda no final de semana estava vendo as matérias sobre o lançamento de seu novo álbum, “Blackstar”, que aconteceu no dia do seu aniversário de 69 anos, no sábado (8). Acordo hoje, segunda (11), e ligo a televisão para assistir aos telejornais, morreu David Bowie. Sonolenta, penso que entendi mal, mas é isso mesmo, morre o camaleão pop, depois de 18 meses de luta contra um câncer que eu nem sabia que o acometia. Imediatamente a memória afetiva viaja até o início da década de 90, a primeira turnê de Bowie no Brasil. Eu estava lá, lembro da sensação, um grande acontecimento. 
 
Mas a sensação logo depois é de finitude, de medo da morte. Da minha, das pessoas que amo, de desconhecidos. A morte é mesmo uma sacanagem, é o que acho. A única certeza da vida, sim, e acho que devíamos aprender a lidar melhor com ela, até mesmo falar mais sobre o assunto. Mas uma verdadeira sacanagem. Você está lá, com a vida cheia de compromissos, planos, e de repente morre! No meu caso, pouco mais de 20 meses na luta contra um câncer, quando a pior batalha já foi vencida, tenho que confessar. Todas as vezes que vejo a notícia de alguém que morreu por causa da doença, o coração balança. Tem sempre alguém tentando me consolar dizendo que vamos todos morrer. É verdade, vamos todos. Jovens, velhos, doentes, saudáveis, em algum momento da vida. Mas a questão é que, no caso de um diagnóstico desse tipo, a pessoa pega uma senha para ficar nos primeiros lugares da fila. E isso não é pessimismo, faz parte desse processo de aprender a lidar com o tema da morte, algo que não acontece apenas na ‘casa do vizinho’, e é o que nos faz correr atrás da vida e de tudo que dizem que pode contribuir para a prorrogação do jogo. E eu desafio alguém, nessa condição, a não sentir um pouco de medo! 

Até porque, é esse sentimento que te move, que te joga na vida com urgência. Quando a vida te vira do avesso, o desafio é descobrir quem é essa pessoa que surge depois do grande susto. Porque a vida não volta ao normal, ou não existe mais a antiga versão do que era ser normal. Quando se tem na rotina a visita ao oncologista, costumo brincar, a vida não é lá muito normal, não é mesmo?