David Bowie no Brasil, início da década de 90 |
Quando seus ídolos começam a
morrer, cai a ficha da finitude. Quando seus ídolos começam a morrer de câncer,
tenho que confessar, cai a máscara da coragem. Ainda no final de semana estava
vendo as matérias sobre o lançamento de seu novo álbum, “Blackstar”, que
aconteceu no dia do seu aniversário de 69 anos, no sábado (8). Acordo hoje,
segunda (11), e ligo a televisão para assistir aos telejornais, morreu David
Bowie. Sonolenta, penso que entendi mal, mas é isso mesmo, morre o camaleão pop,
depois de 18 meses de luta contra um câncer que eu nem sabia que o acometia.
Imediatamente a memória afetiva viaja até o início da década de 90, a primeira
turnê de Bowie no Brasil. Eu estava lá, lembro da sensação, um grande
acontecimento.
Mas a sensação logo depois é
de finitude, de medo da morte. Da minha, das pessoas que amo, de desconhecidos.
A morte é mesmo uma sacanagem, é o que acho. A única certeza da vida, sim, e
acho que devíamos aprender a lidar melhor com ela, até mesmo falar mais sobre o
assunto. Mas uma verdadeira sacanagem. Você está lá, com a vida cheia de
compromissos, planos, e de repente morre! No meu caso, pouco mais de 20 meses
na luta contra um câncer, quando a pior batalha já foi vencida, tenho que
confessar. Todas as vezes que vejo a notícia de alguém que morreu por causa da
doença, o coração balança. Tem sempre alguém tentando me consolar dizendo que
vamos todos morrer. É verdade, vamos todos. Jovens, velhos, doentes, saudáveis,
em algum momento da vida. Mas a questão é que, no caso de um diagnóstico desse
tipo, a pessoa pega uma senha para ficar nos primeiros lugares da fila. E isso
não é pessimismo, faz parte desse processo de aprender a lidar com o tema da
morte, algo que não acontece apenas na ‘casa do vizinho’, e é o que nos faz
correr atrás da vida e de tudo que dizem que pode contribuir para a prorrogação
do jogo. E eu desafio alguém, nessa condição, a não sentir um pouco de medo!
Até porque, é esse sentimento
que te move, que te joga na vida com urgência. Quando a vida te vira do avesso,
o desafio é descobrir quem é essa pessoa que surge depois do grande susto.
Porque a vida não volta ao normal, ou não existe mais a antiga versão do que
era ser normal. Quando se tem na rotina a visita ao oncologista, costumo
brincar, a vida não é lá muito normal, não é mesmo?