sábado, 23 de agosto de 2014

FIM (uma escritora entra em cena)


No mais puro estilo São Tomé, aquele que precisa ver (ler) para crer. Foi assim que olhei pela primeira vez para o livro de Fernanda Torres, em sua estreia no mundo da ficção. O título é Fim (Companhia das Letras, 2013, 203 páginas), mas ele trata mesmo é da vida. Uma boa surpresa, do tipo que te faz feliz por estar redondamente enganada. Confesso que desconfiei de tantas críticas e comentários positivos, acreditando que tinha influência da emissora, da mãe famosa. Mas não, a Fernanda que desfila pelas páginas do livro é outra, tão boa quanto à atriz, de quem gosto muito, mas é uma outra voz. Segura, engraçada, inteligente e nem um pouco politicamente correta. Ela escreve livremente, dando a sensação de que não escreve para agradar, mas para se divertir. E olhem que fazer isso quando todos os seus principais personagens morrem, não me parece fácil. Ela fala do “fim”, mas é a vida que transpira em cada página.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Tudo azul

Foto: Lilla Ferreira
De uns dias para cá me pintei de azul. Apaixonada pelas cores de Almodovar, no olho do furacão me vejo tranquila. Estranho. Se até as unhas ficaram marcadas de forma definitiva e vão contar história, porque não renovar a alma?

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Jejum de palavras (anorexia da alma)




Foto: Lilla Ferreira
Notei algumas reações de espanto ao comentar que o que mais me incomodava no período da quimioterapia, era a falta de vontade de ler. Alguns olhares silenciosos pareciam dizer: era só o que faltava, a pessoa com tantos problemas preocupada com a falta de vontade de ler. E estavam certos, de alguma maneira. A dor física, os enjoos, o apetite zero, e tantos outros efeitos físicos, incomodavam muito, mas muito mesmo. Mas essa é a minha medida particular de bem-estar. Se não consigo ter vontade de ler, algo grave está se passando. Mais de três meses de completa apatia com a escrita. Um passar de olho rápido por jornais e revistas não conta, já que o gesto é quase automático para um viciado em palavras escritas. Os textos obrigatórios da universidade também não contam, embora só Deus saiba o esforço que foi chegar até o final de cada capítulo. Acreditem, todo esse tempo apenas consegui terminar um livro já começado. Viajar é sonhar acordado (Gráfica JB, 2011, 134 páginas), do jornalista paraibano Carlos Romero, foi por muitas vezes um refúgio. Crônicas leves e saborosas com o poder de me resgatar, mesmo que por breves momentos. Leitura a conta-gotas,a cada duas páginas uma viagem, no livro e em suas histórias.O cenário agora é outro, e com o começo da radioterapia as mazelas da quimio vão ficando para trás. O paladar e o apetite já se manifestam. A vontade de livros também.