MULHER, ANTROPÓLOGA E PRIMEIRA-DAMA (POR ACASO)
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Nunca
fui muito de ídolos, mas na adolescência já era fã do antropólogo
Darcy Ribeiro. Depois Florestan Fernandes, Roberto DaMatta, Ruth
Cardoso. Esta última, quase me fez optar por cursar Antropologia, como minha
segunda opção de graduação. Escolhi Radialismo, no último
minuto do segundo tempo. A admiração continuou. O objeto de estudo dessa
ciência me encanta. Costumes, crenças, hábitos, gente, enfim. Daí a felicidade
ao ganhar de presente o livro Ruth Cardoso: Fragmentos de Uma Vida (Globo, 2010,
300 páginas), escrito por Ignácio de Loyola Brandão. Segundo
a orelha da obra, “Loyola escolheu uma narrativa a muitas vozes, colheu o
testemunho daqueles que com ela viveram sua aventura, dos que a amaram. Em
depoimentos emocionantes eles reconstroem o que foi o seu percurso de filha,
namorada, esposa, mãe, avó, dona de casa, antropóloga, acadêmica e feminista.
Primeira-dama do Brasil. Ruth emerge deste livro com o que foi a sua marca ao
longo da vida: a busca da excelência em tudo que fez.”
O
texto agradável de Loyola em muito contribui para a leveza do livro. Mas a
personalidade marcante e acolhedora da “Dona Ruth” é decisiva para encantar o
leitor. Sei que comigo foi assim. Ao final do livro estava íntima, participando
de uma vida que não mais existia. A ponto de diminuir o ritmo da leitura,
evitando chegar ao capítulo de sua morte. Sempre tão empolgada com seus projetos,
realizadora, inteligente e bem-humorada, Ruth Cardoso é uma daquelas pessoas
que vai embora, mas deixa saudade. Idealizadora do programa Comunidade
Solidária, foi uma antropóloga para quem as comunidades observadas eram
comunidades vivas e não culturas para consumo das elites.