A máxima tão falada pelo
jornalista Pedro Bial, quando apresentador do Fantástico, nunca foi tão
verdadeira em minha vida. Ando correndo atrás de uma vida (quase) normal, e de
uma rotina que me mantenha saudável, porque o tal do câncer não é brincadeira
não. Bom, correndo atrás é eufemismo, mal consigo dar cinco voltinhas na
pracinha perto de casa, mas já vejo certa regularidade na intenção, e comemoro
a conquista. Todas as especialidades médicas que visitei nos últimos meses me
receitaram atividade física, e quando vi não tinha mais jeito. Quando se tem
mais gordura no fígado do que nos culotes, a coisa está realmente feia. Então
corri atrás de fazer o que mais gosto. Comprar um livro! Escrito por um médico,
vejam só a coincidência, um oncologista. Perfeito. Correr, do médico Dráuzio
Varella (Companhia das Letras, 206 páginas) me conquistou logo no início,
quando o autor faz um questionamento que também é meu. “Existe sofrimento mais
atroz do que deixar a cama quente, no horário em que o sono é mais arrebatador,
vestir o calção, a camiseta e calçar o tênis para sair correndo?” Para em
seguida, comentar algo que sempre desconfiei. “Se ouço alguém dizer que acorda
cheio de vontade para correr, nadar, pedalar ou levantar peso na academia, por
educação fico calado, mas duvido que seja verdade”.
Como médico, ele lembra que a
maioria de seus pacientes, quando passam da fase difícil, reassumem o cotidiano
sem levar em consideração a saúde, bem ao qual só atribuímos valor se
escasseia: “O que me choca é que, ao emergir restabelecida desse inferno, a
pessoa que passou por tal suplício seja incapaz de andar míseros trinta minutos
diários". Pronto, a carapuça caiu na minha cabeça e encaixou como uma luva.
Adeus procrastinação. O jeito foi esquecer a fibromialgia, a fadiga pós
quimioterapia+radioterapia, e correr para dar umas voltinhas na tal pracinha.
Mas ainda tem mais, a cereja
do bolo do texto de Dráuzio Varella, algo que já tinha ouvido em algum lugar: “Mulheres com câncer de mama
enfrentam obstinadamente cirurgias mutiladoras que interferem com a autoimagem
e a sexualidade, passam pelas náuseas, vômitos e o mal-estar da quimioterapia,
perdem o cabelo, cumprem com rigor as sessões de radioterapia e os cinco anos
ou mais de tratamento hormonal. Quando explico que andar trinta a quarenta
minutos diários reduz em pelo menos 30% o risco de morrer por disseminação da
doença, benefício semelhante ao da quimioterapia, ouvem atentas e juram que vão
caminhar todas as manhãs. Juramento falso, conto nos dedos as que cumprem a
palavra”.
Pronto, outra carapuça caindo na minha cabeça, dessa vez como uma pedra!