sábado, 19 de maio de 2012

MULHERES E O TRÁFICO

Divulgação
Ainda criança, virei rato de biblioteca. Boas professoras de português, daquelas com brilho nos olhos e vontade de ensinar deixavam a gente com gostinho de quero mais depois das aulas, achando que ler era uma boa coisa a se fazer nas horas vagas. Talvez o rendimento na gramática não tenha sido o esperado, mas o gosto pela leitura permaneceu. Recordo que com 12 ou 13 anos, no período de férias, tinha permissão para usar a biblioteca do colégio, que ficava fechada. Era só pegar a chave na secretaria, ir lá e decidir o que queria levar para casa. A sensação de poder escolher à vontade acabou desenvolvendo meu critério de leitura, ou melhor, a absoluta falta de critério. Diante de tantas opções, a mania de ler tudo ao mesmo tempo, como se fosse um banquete de guloseimas.

Esses dias, pulei de uma obra com o cenário na guerra civil espanhola diretamente para o retrato das favelas cariocas. A mania continua. Talvez devesse refinar um pouco os hábitos de leitura. Ou não. Enquanto penso, vou lendo por aí. A chegada ao retrato fiel (e cruel) do rapper MvBill e de Celso Athayde no livro Falcão – Mulheres e o Tráfico (Objetiva, 2007, 270 páginas) aconteceu por acaso. O livro mostra que durante a produção do documentário, e livro, Falcão – Meninos do Tráfico, eles foram percebendo a presença firme das mulheres naquele movimento.

Fortaleceram a idéia e transformaram em livro. Sensação de impotência, tristeza e revolta a cada depoimento lido. O que acontece naquelas comunidades, principalmente no universo do tráfico de drogas é, sem dúvida alguma, uma realidade paralela. Outro Brasil. País triste e sem perspectiva. Vidas que seguem em círculos, destinos traçados. Enquanto esses dois mundos não dialogarem, de verdade, não parece haver saída. E para as mulheres, que me perdoem os cansados do discurso feminista, o efeito da miséria produz seres bem mais mutilados. Na moral!

Trechos de depoimentos:

Leandra: Tipo assim, nem sei como explicar. É uma vida... uma vida suja... Mas nós tem que levar ela do jeito que ela é. Nós tem que ganhar um dinheiro. É tipo um emprego, só não é a carteira assinada.

Priscila: Ah, tem umas realmente que não pode ver um fuzil, não pode ver uma pistola que já fica doida... acha que isso é uma vida legal.

Ana: Hoje em dia meu sonho é poder viver em paz. Um emprego melhor pra minha família, entendeu? Sonho de pobre é pequeno mesmo.

Eva: É muito home que eu saio... é toda hora, mas só dentro da favela, só falcão. Eu não paro... eu só paro lá pras madrugada, quando a boca de fumo tá fechando.

Mãe: Então, parecia que a história tava se repetindo. Eu estava indo pelo caminho errado que nem minha mãe, só que ela se prostituiu, e isso eu nunca ia fazer, mas comecei a vender drogas.

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