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Viver
para contar (Record, 2002, 474 páginas) é o livro de memórias do escritor
colombiano Gabriel García Márquez.
Curioso começar sua leitura exatamente na semana em que foi divulgada a
notícia de que Gabo, como é carinhosamente conhecido, sofre de demência
senil. Aos 86 anos ele preparava a
segunda parte de sua biografia, mas após o diagnóstico já anunciou que para de
escrever. Triste. Um homem tão rico em memórias e histórias silenciar. É a
vida. Narrativas e personagens são reflexos de suas experiências. Seu cotidiano
já parecia pedaço de romance. O realismo mágico sua trajetória. Tudo se
explica. O autor de Cem Anos de Solidão (1967), O Amor nos Tempos do Cólera
(1985) e ganhador do Nobel de Literatura (1982) afirma que “não há nada deste mundo nem do outro que não
seja útil para um escritor”.
Todo texto tem seu marcador, e nesse caso ele veio do Museo Del Prado (Madri), presente de uma amiga querida. (que emprestou o livro!) |
Mesmo
confessando dificuldade com a ortografia, perseguiu a escrita como uma religião.
Todas as energias estavam concentradas a fundo na obsessão de aprender a
escrever. Ele se obrigava “uma carpintaria diária para aprender a escrever a
partir do zero, com a tenacidade e a pretensão enfurecida de ser um escritor
diferente”. Um discurso tão distante da pretensão do mundo moderno, quando
qualquer linha escrita já tem intenção de best-seller. García Márquez é
personagem apaixonante. E a partir de agora fica a curiosidade para descobrir em
seus escritos traços de suas histórias. Ele confessa, como bom (típico) leitor, o hábito de cheirar as páginas de todo livro novo. A voracidade dos
seus hábitos de leitura desde a infância, e a sua coragem de seguir um sonho já
o denunciavam. Ele seria grande. Um dos melhores no que sempre amou fazer.
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