Aos 10 ou 11 anos |
Você percebe que seu mundo
mudou, ou então foi abduzida para outro planeta. E que nada vai parar por causa
disso, tipo brincando de estátua. O desejo é de que tudo pare, enquanto você
melhora e segue a vida com todo mundo. Mas não é bem assim. No outro dia (ou no
outro segundo) tudo estará como sempre foi. O ônibus atrasado, vizinho mal-humorado,
o cafezinho gelado. O caixa do banco não te facilita a vida por causa disso, e
as contas continuam chegando no seu endereço. É isso. Sua vida pega um
atalho, enquanto o mundo segue em frente. Não posso falar por outras pessoas.
Mas quanto a mim, talvez por não ter lido apenas Pollyanna (eu fui além e
completei com Pollyanna Moça, vocês conhecem?), acredito que o atalho pode
voltar a cruzar a tal estrada.
Primeiro vem o susto, depois
o medo. A revolta passa rápida. A angústia permanece, só muda o grau. Quando
você se dá conta de que é verdade, essas coisas não acontecem apenas nos filmes
ou na casa ao lado, tudo fica claro. É hora de correr atrás do prejuízo e ver o
que se pode fazer. Desde o primeiro exame pude ler nos olhos da moça que me pediu
para voltar e ‘complementar’ o exame, mesmo eu já estando de saída. Pude
entender a presteza da médica ao lançar do celular ligando para o colega, dono
da clínica, solicitando um exame com urgência. Foram dias de espera pelo
resultado oficial, mas eu já sabia. Engraçado que algumas pessoas diziam
“tenha fé”, como se ser racional e enxergar o problema de frente fosse uma
fraqueza. Esse é o meu jeito de lidar com as dificuldades, de frente. Não vou
me espantar se isso mudar, porque a 'coisa’ é perigosa. Não sei do futuro,
apenas acredito que vou estar lá. Mas também sei que posso me permitir ser frágil vez
por outra.
No meio da luta, não tenha medo de ser frágil.
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