sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sim, eu tenho câncer, e daí?



Aos 10 ou 11 anos
Você percebe que seu mundo mudou, ou então foi abduzida para outro planeta. E que nada vai parar por causa disso, tipo brincando de estátua. O desejo é de que tudo pare, enquanto você melhora e segue a vida com todo mundo. Mas não é bem assim. No outro dia (ou no outro segundo) tudo estará como sempre foi. O ônibus atrasado, vizinho mal-humorado, o cafezinho gelado. O caixa do banco não te facilita a vida por causa disso, e as contas continuam chegando no seu endereço. É isso. Sua vida pega um atalho, enquanto o mundo segue em frente. Não posso falar por outras pessoas. Mas quanto a mim, talvez por não ter lido apenas Pollyanna (eu fui além e completei com Pollyanna Moça, vocês conhecem?), acredito que o atalho pode voltar a cruzar a tal estrada. 
 
Primeiro vem o susto, depois o medo. A revolta passa rápida. A angústia permanece, só muda o grau. Quando você se dá conta de que é verdade, essas coisas não acontecem apenas nos filmes ou na casa ao lado, tudo fica claro. É hora de correr atrás do prejuízo e ver o que se pode fazer. Desde o primeiro exame pude ler nos olhos da moça que me pediu para voltar e ‘complementar’ o exame, mesmo eu já estando de saída. Pude entender a presteza da médica ao lançar do celular ligando para o colega, dono da clínica, solicitando um exame com urgência. Foram dias de espera pelo resultado oficial, mas eu já sabia. Engraçado que algumas pessoas diziam “tenha fé”, como se ser racional e enxergar o problema de frente fosse uma fraqueza. Esse é o meu jeito de lidar com as dificuldades, de frente. Não vou me espantar se isso mudar, porque a 'coisa’ é perigosa. Não sei do futuro, apenas acredito que vou estar lá. Mas também sei que posso me permitir ser frágil vez por outra.


2 comentários:

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