segunda-feira, 24 de março de 2014

Podemos dizer adeus mais de uma vez

Foto: Lilla Ferreira
Parece até castigo - só que não - ter pedido tanto um tempinho livre, para fazer coisas legais, passeios, leituras, filmes... E ter conseguido, finalmente. Mas o presente veio com bônus, aquela doença que a maioria das pessoas ainda tem medo de falar. Sim, já falei aqui antes, eu tenho câncer, e não um CA. Ou será que falando só o apelido a doença fica menor – só que não, de novo? Então, o tempo apareceu, e pelo que estou vendo, vai até sobrar. Torcer agora para a ansiedade diminuir, até porque é melhor para a saúde.

Logo depois do diagnóstico, como todo paciente modernonomundodainternet, desandei a pesquisar termos, diagnósticos, tratamentos, tudo que dissesse respeito à novidade. O lado personagem jornalista contribuiu bastante, e atormentei a paciência da minha médica. Nessa busca, encontrei vários blogs de pessoas que resolveram criá-los para falar sobre a sua forma de lidar com o problema. Aprendi bastante, mas prometi a mim mesma que não iria transformar esse meu espaço de ‘lazer’ em meu diário do tratamento. O juramento ainda está de pé, mas não tem como evitar alguma interferência, afinal de contas minha vida, neste momento, gira em torno desse planeta.
Lembrei-me do livro Anticâncer, de David Servan-Schreiber, o relato de um médico que lutou contra o câncer e inventou uma nova maneira de viver, que li há cerca de dois anos. Achei que seria a hora de conhecer o final da sua batalha no livro Podemos dizer adeus mais de uma vez (Fontanar, 2011, 137 páginas). Ele venceu a doença por quase 20 anos, e despediu-se com serenidade, mas não desistiu nunca, nem mesmo quando o seu lado racional dizia que era tarde. Mas o mais importante é que ele viveu enquanto estava vivo, e longe de ser redundância, essa atitude é sábia e difícil nesse contexto. Foi o David que me fez ter coragem de falar sobre minha doença no facebook. Ele optou pela franqueza, primeiro porque a doença se ‘manifesta’, mas também porque segundo ele um ditado americano diz que “quando há um elefante na sala, não devemos fingir que não o enxergamos, precisamos falar dele e chamá-lo pelo nome”.

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