quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Jejum de palavras (anorexia da alma)




Foto: Lilla Ferreira
Notei algumas reações de espanto ao comentar que o que mais me incomodava no período da quimioterapia, era a falta de vontade de ler. Alguns olhares silenciosos pareciam dizer: era só o que faltava, a pessoa com tantos problemas preocupada com a falta de vontade de ler. E estavam certos, de alguma maneira. A dor física, os enjoos, o apetite zero, e tantos outros efeitos físicos, incomodavam muito, mas muito mesmo. Mas essa é a minha medida particular de bem-estar. Se não consigo ter vontade de ler, algo grave está se passando. Mais de três meses de completa apatia com a escrita. Um passar de olho rápido por jornais e revistas não conta, já que o gesto é quase automático para um viciado em palavras escritas. Os textos obrigatórios da universidade também não contam, embora só Deus saiba o esforço que foi chegar até o final de cada capítulo. Acreditem, todo esse tempo apenas consegui terminar um livro já começado. Viajar é sonhar acordado (Gráfica JB, 2011, 134 páginas), do jornalista paraibano Carlos Romero, foi por muitas vezes um refúgio. Crônicas leves e saborosas com o poder de me resgatar, mesmo que por breves momentos. Leitura a conta-gotas,a cada duas páginas uma viagem, no livro e em suas histórias.O cenário agora é outro, e com o começo da radioterapia as mazelas da quimio vão ficando para trás. O paladar e o apetite já se manifestam. A vontade de livros também.

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