terça-feira, 11 de junho de 2013

Casagrande e seus Demônios

Invadindo o campo do "inimigo"


Ainda na adolescência, influenciada por alguma personagem de romance que não recordo o nome, teimei em escrever diários. A mania não vingou, ia dando uma preguiça. Mas uma coisa é certa, outro dia os encontrei e me surpreendi. Ao contrário da tal personagem do romance, o tema mais recorrente nos meus diários era o futebol. Resultados de jogos, comentários, a alegria de ver o time ganhar, a guerra com os meninos adversários na escola. Sendo assim, não tinha como deixar de admirar o talento de Casagrande, mesmo sendo torcedora do tricolor paulista. Corintiano roxo, ele foi me conquistando de verdade aos poucos como comentarista. Embora ainda me irrite com sua torcida descarada nos jogos do São Paulo x Corinthians, comentados por ele na televisão. Mas sua sinceridade exagerada acabou me levando para o seu time e deixando-me curiosa para conhecer seu drama no livro “Casagrande e seus demônios” (Globolivros, 2013, 242 páginas) escrito em parceria com Gilvan Ribeiro.

Como toda narrativa autorizada, essa não foge à mania de carregar menos na tinta de algumas histórias ou personagens. Casagrande se expõe com firmeza e facilidade, mas poupa claramente sua família. Filhos, pais e amores são apenas pincelados aqui e acolá. Um exemplo é o fato do problema vivido com o alcoolismo do pai, durante sua adolescência, ser colocado discretamente quase ao final do livro, e ainda por cima como se não tivesse muito a ver com seus demônios. Mas o livro é bem escrito, com uma não linearidade que enriquece a leitura, e recheado de boas histórias. Não tem o tom paternalista de alguns discursos no combate às drogas, sua cor é forte. O craque se coloca como alguém que curtiu a vida, não se arrepende, mas perdeu a mão e se ferrou. Que demorou a admitir que é impotente perante as drogas, mas também que teve a chance de recomeçar, algo que seu companheiro Sócrates não conseguiu. Talvez um bom exemplo para aqueles que defendem a internação compulsória. Se não fosse a coragem de seu filho mais velho de interná-lo à revelia, talvez não estivesse vivo para contar a história.

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